sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

ESCRITOR CONTRA-NATURA

Não se nasce escritor ou repórter da vida, como se quiser, mas aprende-se e apreende-se. Ser escritor, ou tornar-se ou tornear-se nessa espécie, não é um privilégio, pode ser um dom - mas nunca uma dádiva divina...só se atendermos a algum tipo de preocupação social, melhor, com o mais próximo, o indíviduo e a sua tragédia pessoal, esquecendo-nos da nossa porventura...desventura. Dou um exemplo, um episódio breve, de como uma dita pessoa normal não iria perder tempo em escrever sobre o outro: um desempregado, chega ao balcão do café e diz ao dono :arranje-me qualquer coisa para fazer...eu faço tudo. Era um homem, que pelos seus modos rudes não iria provocar a minha simpatia, mas o seu gesto, a sua atitude de desespero, despertou os meus sentidos mais profundos. Por muito que nos fechemos sob nós próprios, importa estar atento aos outros - é essa a nossa condição humana. Por vezes, o nosso egoísmo tira férias e a emoção trai-nos.
ESCRITOR CONTRA-NATURA

Não se nasce escritor ou repórter da vida, como se quiser, mas aprende-se e apreende-se. Ser escritor, ou tornar-se ou tornear-se nessa espécie, não é um privilégio, pode ser um dom - mas nunca uma dádiva divina...só se atendermos a algum tipo de preocupação social, melhor, com o mais próximo, o indíviduo e a sua tragédia pessoal, esquecendo-nos da nossa porventura...desventura. Dou um exemplo, um episódio breve, de como uma dita pessoa normal não iria perder tempo em escrever sobre o outro: um desempregado, chega ao balcão do café e diz ao dono :arranje-me qualquer coisa para fazer...eu faço tudo. Era um homem, que pelos seus modos rudes não iria provocar a minha simpatia, mas o seu gesto, a sua atitude de desespero, despertou os meus sentidos mais profundos. Por muito que nos fechemos sob nós próprios, importa estar atento aos outros - é essa a nossa condição humana. Por vezes, o nosso egoísmo tira férias e a emoção trai-nos.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

CONTRaROTINA

Afinal o real fale e o sonho persiste: não os modelos ideológicos estereotipados, constipados de racionalismo, estéreis por natureza, nada étereos. Mas a capacidade inata ao macaco sonhador e engenhoso que somos. Não nos contentamos, ou alguns ou muitos não se contentam em ser "contadores", deste deve-haver de vida absurdo.
Escrever sob e sobre a vida, conjecturar para mudar conjunturas para ser-estar cada vez mais vivos. Resta-nos a insubmissão dos desesperados perante a ditadura da realidade e este Estado de Direito em muito mau estado. Fica apenas a consolação éfemera que no século passado estávamos pior. Abençoados os que criam Futuro na rejeição incómoda do Presente altamente desinteressante. E como país...não nos contentemos em ficar pela Liga Europa. Haja ânimo.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

MEDO DA CRISE


Medo, é o que noto quando ando no meu sobretudo de espião de emoções. Todos ou quase todos, menos os loucos e os desesperados, temos muito medo de dar um passo em frente. Aparentemente estamos agarrados que nem drogados, ao nosso empregozito, ao subsidiozito, ao abonozito e à grande vida que levamos de casa-trabalho-centro comercial, além da sportv.
Hoje é dia de Cantona marcar um canto contra os bancos...bem e depois? que seria o day-after sem multibancos? Precisam-se propostas para mudar o mundo e acabar com este absurdo de viver sem ideais...nem ideias.
Por enquanto, afogo as minhas mágoas numa mulher bonita que me faz viver e me chama louco a sorrir.
CRISE

crise na bolsa de valores ou será dos valores?

quanto vale um homem? nos seus bolsos vazios de esperança, mete as mãos nuns jeans rôtos, e uns cêntimos sujos nunca lhe darão para tomar sequer um irish coffee...mas toma-lhe o amargo nas streets debilitadas de Dublin, na ira de Irlandas desbotadas dos seus prados verdes. Já um poeta tropical disse que as mulheres ficam mais belas quando chorosas, também nas portas a bater solitárias das fábricas abandonadas, na ferrugem dos cadeados sem mãos, no chão de cimento furam ervas daninhas anunciando novos poemas de protesto e redenção.
Como um amor que se vela antes de se tapar seu rosto, cometa-se a façanha: faça-se da crise uma despedida, um adeus sem saudades dum sistema que atenta contra os mais elementares direitos da Humanidade. Depois do avc soviético, dever-se-á declarar o óbito capitalista e a consequente submissão do capital à sua condição inicial: mero instrumento de trocas.
Claro faltam alternativas, modelos socio-politicos e novas filosofias de vida...e se em vez de construir modelos cerebrais, déssemos aso a improvisar a felicidade? se é pobre em si a dicotomia ricos versus pobres, de facto devíamos repensar a legitimidade da riqueza de alguns, pessoas, países e empresas face à penúria de muitos milhões. Realização, mérito, inventiva e trabalho deveriam ser os valores e ter a sua devida recompensa e o seus concomitantes inimigos são a especulação, a mediocridade, a esperteza, a burocracia e o legalismo, entre outros.
Além deste discurso racional, que não é o que mais aprecio, subsiste a esperança em cada erva daninha que fura o betão molhado deste inverno do nosso descontentamento e anuncia que a primavera é possível.

Voltar a escrever. porquê? responda quem souber.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Vida,
que coisa mais esquisita
a norma no universo é não ser
porque haveríamos de ser a excepção?

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Nota: como sempre a minha escrita é caótica, inclassificável, incorrigível. E pior é que estou-me nas tintas para ordená-la no ordinateur - é computa por natureza.
PROMESSA AMAR

tenho um amor incontido por ti
e não te posso tocar
uma chama secreta
um sonho íntimo

queria tanto contar os teus cabelos
nas noites de insónia sem ondas nem luar
venerar-te naquela capela visigótica
que dizem ser da Senhora da Rocha
proa calcária e vela sobre o mar

um dia ao entardecer
no túmulo dos nossos desejos
hei-de pegar-te pela mão
e casar este corpo católico cristão
com o teu muçulmano
no desespero amável dos deuses.
aguardo noite fora
que me digas alguma coisa
alguma coisa de insensato
para eu fazer alguma coisa por ti
como abrir a minha combinação
sem estar nada combinado
ao acto adiado tanto tempo
na censura moral desse título de propriedade
que se titula casamento
e proíbe todo e qualquer adereço
a mínima lingerie
a uma mulher dita decente

mas hoje eu vou ser a puta mais reles de deus
vou esfregar-me no teu pénis preto
deixá-lo entrar em todos os meus templos proibidos
escancarar todas as minhas portas fechadas
ganir como cadela ciosa de cio
morder teu pescoço leonina
verter meu fel
minha raiva uterina
no derrame cerebral do teu leite

porque hoje vou ser
duma vez por todas
MULHER

e deixar na esquina a puta biodegradável que fui.
beijar-te e morrer
e dizer-te
que o teu amor
foi o melhor
que me aconteceu

eu que viera do lixo
do bafo alcoólico de minha mãe
filho da rua, da cola e de ninguém

eu que não brinquei
mas vi outros brincarem
e fugia deles como um rato

eu que não tinha roupa decente
para ir à escola
como toda a gente

beijar-te e morrer agora
dum tiro policial e certeiro
foi o melhor que me aconteceu
em toda a minha vida de prisioneiro
nas avenidas onde se vende sexo
e o amor fica guardado para quem não tem dinheiro
perco todos os navios
e sou perito em nostalgias de fibra
deixo enferrujar todos os bídons vazios
e só ando em ruas sem ninguém
abraço estátuas desgostosas e solitárias
e dou grandes passeios aos domingos
pondo flores nas campas mais abandonadas

não tenho idoneidade sequer para testemunhar que vivo
até acredito piamente que não existo
mas pelo andar tão palhaço solitário e triste
há-de pelo menos ficar na pintura do meu velho carro para abate
um verso feito risco
à Paula Raposo

excepcionalmente, porquanto não é aqui saleta para agradecimentos, o envio do seu livro que logo li e tardiamente agora agradeço pública e sentidamente
ainda guardo o lenço de sangue virgem de ti:
hei-de levá-lo no vento do meu último sôpro sobre a terra;
e ninguém naquele cemitério de gente indiferente,
saberá quanto se pode amar tanto a ausência
e passar melhor na passadeira do passado,
que na sombra em fuga do presente.
em homenagem sentida ao menino vítima de incêndio

Quero morrer por ti
pela vida que não tiveste
pela promessa sagrada
que não se cumpriu
quero morrer por ti
porque me apetece morrer por amor
e não confessá-lo a ninguém
mas anunciá-lo no meu querido céu ateu.

(em boa verdade devia guardar estes sentimentos para mim - mas poesia obriga)

Esta coisa séria da escrita e da vida que não se leva a sério como convém. Acabei de saber duma criança consumida pelo fogo num palheiro e pedi responsabilidades a esse deuzinho tão bondoso e interveniente: informaram-me, em nota oficiosa do arcebispado de braga, onde me encontro de férias precárias, que a negligência é humana e deus não o é pela sua própria natureza - além de que tem imunidade diplomática e estatuto internacional de inimputabilidade. Assim, recolhi aos meus aposentos, no mais pesaroso silêncio dos deuses. Caíam cinzas no écran do meu portátil, lavravam incêndios de dor por toda a parte e dei por mim numa prece breve de revolta, que só os ateus sabem rezar pelos outros.

terça-feira, 20 de julho de 2010

DESAGOSTO

trago um desgosto em mim desde menino
um não sei quê de angústia
talvez porque foi quase sempre meu destino
morar nas amuradas do mar

brinquei na areia
saltei das rochas
fui enrolado pelas ondas
e quantas vezes dei á costa na ilha dos tesouros

hoje sei
quando abro esse baú da infância
quantos tesouros lá deixei:
as gritarias, os pontapés na bola, os bichos-da-seda

hoje sei
aquela amargura que trago
só pode ser
da recusa de crescer
e persistir brincar ainda na praia vazia da minha meninice.






só quem viveu muito
pôde morrer tantas vezes e sobreviver
fuzilado pelos olhos de quem nos amou e partiu
e só volta de vez em quando no prodigío breve
dos lençóis de neblina dos sonhos

há sempre alguém que nos comove a cada esquina da vida
e dessa beleza sentida
só por ela valeu bem a pena nascer da dor
em amor convertida

(sugestionado pelas fotos e versos do T. da Luz)

sábado, 17 de julho de 2010

preia-mar

no bulício duma praia maré-cheia de verão
onde ondas de meninos se atiram á água
e as meninas tecem caracóis e intrigas
há um menino de risca ao lado
que não sorri
e risca riscos ariscos à solidão
nuns gritos estridentes de gaivota sem asas

(e o meu filho joão não me deixa terminar o poema)
PATHEOS

serás poeta sem querer
se um dia te deixares estar sem esperares nada nem ninguém
no desejo insensato de esquecer o mundo
tecendo rendas de bilros de silêncios
bordando novas palavras para sentimentos ocultos
num pateo sombrio de desilusões

de tudo sorrirás
dos tecidos das vaidades que debotaram
dos vestidos das meninas debutantes do clube farense
das promessas de amor eterno que duraram um beijo

pouco a pouco
todas as lágrimas serão estalactites dum tempo desaparecido
todas as ansiedades não mais que ondas moribundas nas costas do passado
e tu, converte-ás em triste testemunha de ti próprio e da tua circunstância breve
face a face à estátua magnífica do futuro

sexta-feira, 16 de julho de 2010

sinto falta de abraços longos e apertados
de camaradas novos que me prometam mundos
e não fundos

não quero viver agora
mas depois de amanhã
quando um homem de bolsos vazios
valer mais que um de bolsos cheios

quero morrer por ti
por uma causa justa
e quem viveu assim
não existiu em vão.
sou um indisciplinado por natureza
nunca serei ninguém de jeito e não me importa
porque a vida é sempre muito maior
e é tolice pensarmos ser grandes
- nem o peixe-imperador, coitado, acaba sempre de olhos esbugalhados no grelhador

se me levanto a meio da noite
e deixo a mulher que amo só abraçada ao travesseiro
não é para provar a minha existência,
garantir a minha salvação ou pior, a eternidade

não

o que procuro, viajante por veredas solitárias
enquanto quase todos dormem tranquilos
é essa essência
ascese poética
porque não encontrou ermida sua para se acolher.

quem me dera ser analfabeto como meu primo aniceto
não deixar entrar tantos fantasmas no meu pobre intelecto
pernoitar ao relento por montes e vales
e como uma serpente amar sem pecado
ter sempre aquela alegria de menino
trincar romãs e figos nas pernadas das árvores
fazer figas à morte e ao destino
atirar longe todas as amarguras
na fisga que um dia perdi
quando lavei a minha cara suja
para a missa que nunca quis.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Não tenho paciência para diários e memórias
mas tive um fim-de-semana memorável em Tânger
repleto de raparigas ardentes e bonitas

quem diria que o paraíso seria tão próximo?
hoje apetece-me morrer de amor por ti
e nada mais dizer
porque tudo o que disser
soa-me a cada-falso

segunda-feira, 7 de junho de 2010

esperei por ela toda a noite
e claro não veio
mas na claridade da madrugada
vislumbrei outra aurora
onde inesperada aparecera magnífica
na maré-cheia inicial desse amor
agora tudo se dissipara no horizonte da memória
e eu limitava-me a marcar a sua falta
num ponto final.
Posso deixar-te nua no sofá despida de amor
e pôr-me a compor um tango antigo e fora-de-moda
eu sou assim Evita
um fato amarrotado pelas unhas da tua revolta
um cabrão que te fode e deixa
um macho latrino e acabrunhado
perante esse pecado maldito e tremendo
de nos amarmos demais
nas noites demoníacas que rasgamos corações
e até deus foge de pavor
desse fogo-fátuo
que pensa ser só sexo
na sua omnisciência
e é todo amor.
não poemo
não quero poemar
não brinco com as palavras
não quero brincar

mas há palavras armadas em senhoras muito sérias
e outras muito senhoras do seu nariz
e ainda muitas outras muito senhoras finas de mau porte

e há que desmascará-las
violá-las por amor à arte
na violência da vida
no seu deboche de mau-gosto
e da língua demasiado comprida de muitos
nesta casa de putas deprimentes
sans glamour sans amour

declamar amor
e deixar o meu telemóvel esquecido no teu travesseiro

domingo, 6 de junho de 2010

Apartado da vida com vista-mar e ninfa para amar


Uma gaja para amar - hoje bateu-me esta frase ao sabor da ondas de algas magrebinas que morrem nesta baía de suicidas adiados sine die. Não sou desses de lamúrias caniches por senhoras predadoras de sexo, fortunas e famas várias, nem por damas de camélias, belas, insensíveis e inatingíveis ou intangíveis.
Deixe-mo-nos de tretas: desejo uma gaja para amar. E que é isso? alguém disponível para um autêntico curso de guerrilha, tipo dormir ao relento em montes de ninguém ou sorver rios até à nascente. Agora vou ver tv, logo continuo a moldar uma das peças do puzzle desta vida, aliás sem jeito. Não se pode viver sempre a deglutir saliva incessantemente.

sábado, 5 de junho de 2010

O comboio da vida já partiu, agora só tem passado, disse-me o funcionário da Companhia Férrea de Jesus. Eu, encolhi os ombros e aceitei uma passagem por essa via e por toda a vida - vitalícia: haveria até aos meus últimos dias de andar em vagões de mercadorias, recolhendo provas da existência de mim e dos outros, que é a mesma coisa, somos a mesma espécie aparentemente. Bem talvez eu fosse um macaco com mais azia da realidade, e mais sede de preencher formulários sem utilidade nenhuma de vazios vários. De facto, estranhava muito a dita realidade, as suas certezas, os seus hábitos - até os seus prédios colossais, sobretudo quando habitados de seres sem alma, autênticos ratos domésticos, previsíveis e satisfeitos na sua aparência vulgar. Parece até que era, na sua transladação para gavetas e acampados em campas, que finalmente ganhavam um pouco de alma. Nasceram para morrer e ganhavam a vida para perdê-la por uns trocos - nem suspeitavam que haveria mais mar além do cabo das tormentas.

terça-feira, 1 de junho de 2010

PRECISA-SE PRIMEIRO QUE ENDIREITE NAVE PORTUGAL SEM DESANDAR PRÁ DIREITA

domingo, 30 de maio de 2010

HOJE DOMINGO DIA SANTO, DAÍ A LETRA MIUDINHA DIGO QUE NÃO ME APETECE FAZER NADA, TÃO-POUCO NADA, DAÍ ESCREVO CONTRA A PREGUIÇA QUE É A COISA NA VIDA A DAR MAIS TRABALHO A QUEM SE RECUSA TORNAR ESTÁTUA DE SAL DE SI IMPRÓPRIO PARA TODO O CONSUMO DOMÉSTICO ATÉ A MAÇÃ DO SEU ROSTO QUE EU COMIA LOGO DE MANHÃ MAL O SOL POSTO POR CIMA DO SEU DORSO DADO AO COMBATE, JÁ NÃO ME SABE TÃO BEM COMO ANTIGAMENTE. RECEIO QUE A VIDA EM SI DEIXE DE SATISFAZER OS MÍNIMOS OLÍMPICOS E OS DEUSES GREGOS ME ABANDONEM AO RELENTO DO TEMPO, NAQUELE TREMENDO DESALENTO QUE SÓ OS MORIBUNDOS CONDENADOS ÀS GALÉS DO ESQUECIMENTO SABEM.DESEJAVA ARDENTE QUE ESTAS PALAVRAS, E OUTRAS QUE ADVIRÃO, DE QUEM NÃO HÁ MEIO DE ENCONTRAR DEUS, MESMO O MAIS BARATO, FOSSEM AFIXADAS NAS CATEDRAIS DA ALEMANHA, OU SÓ EM KOLN, QUANDO EM MENINO IA CAINDO AO OLHAR PARA A TORRE, COMO NOVOS ÉDITOS DE MARTINHO LUTERO OU DA ARCADA, ONDE UMA PESSOA TÍMIDA E DISCRETA TOMAVA CAFÉ SEM PERTURBAR A CLIENTELA QUE NUM KANT FAZIA REGIME. e tenho medo de dizer mais nada.
PAGO LUVAS A QUEM DERRUBAR ADMINISTRAÇÃO DE CONDOMÍNIO DE S.BENTO E IMPEDIR S.CAETANO DE ENTRAR, VIA GOLPE DE ESTADO POÉTICO-PATÉTICO -ASSEGURA-SE QUE TIO PATINHAS, ONCLE SAM E SOMERSET MAUGHAM NÃO APROVAM TAL INICIATIVA
ANSEIO ANCIÃ ABASTADA MESMO DE ANSIÃO QUE ME ABONE ESCRITOR NA PAZ DOS ANJOS (NÃO LIGAR À CÉU DO CALL CENTER INFERNAL, PORQUE NÃO TEM MÃOS A MEDIR)
PROCURO CASA DE CAL E SILÊNCIOS NO SUL PARA FINS MONÁSTICOS i.e reclusão criativa (assunto sério)
há sempre muita gente dentro de mim a querer falar
mas hoje é domingo
deixem-me descansar

além dos meus ataques epiléctricos de asma informática

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Em directo num canal do paciente inglês (SIC)
oiço o ruído do arrastar de móveis luís 14 da A.R
república coimbrã decerto
simulacro de democracia
ninguém vê que o menino d'oiro vai nu
e outro espreita na toca

toca a finados
o sino de bronze da lei dos partidos repica pica pica
mas não dá pica a ninguém
aguardamos pacientes neste asilo espichel
quem apareça de novo

que venha um dom joão segundo
não armado em rei
mas vestido nas mágoas dum povo
e portugal se levante
pelos mendigos do mundo
e seja pátria inteira
e renegue esta europereta bufa

porque temos sede assassina de Futuro.
Não há notícias de poemas
o país está mergulhado na crise, dizem
mas ainda não começou a época balnear
havemos de nos afogarmos de desgosto
no mês que eu menos gosto
só pode ser a confusão de agosto
Os poemas foram excluídos da vida
e nem o amor nos salva
há uma cabo-de-mar manequim para cada menina
e um salva-vidas a boiar
num navio nunca visto
onde no convés bêbados budas de nomes esquisitos
deambulam sem esperança
e um a um atiram-se mijados
na ânsia tuberculosa duma libertação marítima.
UM CONTO PELA CALADA DA NOITE

SUBÚRBIOS DA CRISE

Quase meia-noite, o meu filho varre o chão do Mcdonalds, foi o melhor que arranjou - se não teria de ir arrumar carros, porque os baldes de massa secaram na crise da construção desenfreada.
Do outro lado da avenida, a minha filha despacha pizzas e se não ocultasse a licenciatura, seria considerada incompetente para meter massas no forno.
Quem me dera que ele não fosse tão bom rapaz e tão bem formado, e tivesse a coragem dos bandidos: assaltasse nem que fosse um lar da misericórdia, que não tem piedade nenhuma de nós. Melhor que ela fosse puta, numa casa fina, e andava bem melhor e seria até considerada uma senhora, desde que soubesse ser discreta. Mal por mal, não dava as borlas aquele bétinho que anda com ela a tiracolo.
Já me esquecia do mais novo: está muito desempregado - até da vida.
"Não quero saber pai: um dia o comboio há-de parar por minha causa e eu vou-me rir de atrasar a vida ao pessoal".
Olhei-o no seu ar alucinado e imberbe.
"Tens uma vida pela frente, pá, não me dês mais desgostos".
"Descansa, só te vou dar mais um: é o último" e puxou dum cigarro.
"Não vais fumar, aqui não se pode fumar" e tirei-lhe o cigarro da boca.
" Oh pai,faz a última vontade dum condenado"
" Não é faz, é satisfaz"
" Porra, ainda te preocupas com a língua?"
Devolvi-lhe o cigarro, mas ele não o acendeu, tinha o empregado à coca. O meu filho queria desistir. Intimamente, dava-lhe razão: a vida só tem sentido...quando o tem. Mas insisto: a vida tem sempre sentido, porque nada é melhor que ela. O ar fresco da manhã, o beijar alguém, até entristecer para se dar a volta num sorriso. Conheci um amigo assim: vendia sorrisos. Até depois de ficar canceroso, sorria. Morreu a sorrir. Nesse deus acredito piamente.
Ao longe oiço a gritaria duma manif dos sindicatos sem gás - o governo tá-se nas tintas: ladrem á vontade que os audis passam.
Vendo bem a culpa não é do governo, nem de deus - é de nós, amnésicos de amor.
"Dê-me mais uma bica e faça a conta". Por hoje já tenho a minha. Amanhã é 28 de Maio e eu resisto a comemorar - mas uma ditadura sobre os interesses, caía bem. De Direito, não de direita.
DIÁRIO D'AMANHÃ

Iniciei este blog, prenunciei, com uma visita imprevista ao Júlio de Matos, amigo de longa data que só conhecia de vista. Mentira: fui lá uma vez assistir a um espectáculo no jardim e a uma exposição de objectos ou artefactos eróticos.
Hoje, passados anos (na minha vida é assim - sou mamute), deparei-me com uma outra exposição, desta vez, aparentemente mais radical: auto-intitulam-se de artistas explosivos e ocuparam, com a devida licença, um bloco degradado. O mais surpreendente é ter dado com um génio, de nome Aliocha, parisiense de origem russa, e outras, desvalorizando essa ascendência, como de cristão-novo se tratasse, ao depara-me com rostos absolutamente magníficos, porque dolorosos, dum tal J.C., presumo. Tive pudor em fazer-lhe uma oferta e ofereci-lhe o meu livro AVRYL, em sinal de admiração - pois detesto oferecer ou pior, vender livros. Escrevo para que me leiam, não para me oferecer ou vender - assim, seria melhor não escrever, pois de putas está o paraíso cheio.
Mas quero é dar conta do meu sentimento de solidão naqueles jardins e edifícios concentracionários ao fim da tarde, sem ninguém. E eu só no meu cigarro a deambular como um passado dos cornos, que até faço por isso. Passei por uns contentores com cheiro a mijo de fraldas de bébé e pacotes de leite cheios, presumo fora de prazo. Apeteceu-me ser árvore, testemunha imóvel de solidões, fazer tudo para que me internassem num daqueles apartamentos com varandas rosa sobre os relvados e as ruas interiores desertas. Encontrei muitas portas fechadas, bati em todas elas e elas riram-se a bandeiras despregadas. Sei que ninguém me cura das mágoas que facilmente adquiro dos outros a cada esquina. Não posso ver ninguém mal - é uma merda, estou sempre a cair. Qualquer fico sem joelhos e tenho de usar próteses: decerto não terão a minha medida e ficarei debaixo do imbomdeiro (escreve-se assim?) daquela menina amputada de sorriso tranquilo e triste que recebeu serena a Lady Di em Angola.
Mais tarde no colorido do Mcdonalds, presenciei uma senhora de negro a falar sozinha e a barafustar com o peso dos sacos - mas era da vida. Desta vida urbana, mas pouco, que ninguém liga a ninguém - a não ser se for uma gaja boa. Aí temos lutos orgásticos e o seu cu fica virtualmente talhado às fatias. Ainda esta tarde vira um tipo-cadáver a vender pela avenida de Roma fora, nêsperas doces para o seu consumo ácido.
Avante Capitalismo de Massas e seus empreendedores: vocês são os maiores. Mas lembrem-se que têm os dias contados. Podem dizer-me em quanto ficou o índice Dow-Jones da felicidade? por mim tive mais um dia livre...menos destas amarguras. Não estranharei o Inferno que me derem. Vai uma imperial bem tirada, n'est pas?

nota importante: no "atelier" do Aliocha era local de morte de pacientes impacientes
UM POEMA POR DIA ATÉ QUE ME TIRA A AZIA

tendo por mote o massacrante lusiadas,

das almas e os varões dependurados
que da acidental playa lusitana( efeito tgv lx-madrid)
por sete mares já dantes ajantarados
foram além da conforama

ao Luís de Camones,onde páram teus ossos,meu?

Recebo novas frescas dum soldado entre mil
que em vez de ossos e farda
tinha areia, mentiras e mais nada

Que dizer do nosso vate maior
se ninguém sabe nos Jerónimos da nossa desilusão
se são ossos de criatura
do pernil ou osso-buco
ou até de galgo afegão?

Tristes correm os rios duma nação
choram de dor, Douro abaixo até ao Dão
sem mondar do Mondego de seus amores
onde pára o nosso Princípe náufrago sem-abrigo?

Que se levante o povo assírio dos montes Hermínios
de Avis ou Europecar da Restauração
que se atire falsas elites borda-fora
e um novo Afonso Henriques clame em mirandês Pertual
meu país místico de Freixo-de-Espada-à-cinta a Ourique
império de mentira iniciática de Sagres
-mas que se minta em grande, pela grandeza tremenda de Portugal

quinta-feira, 27 de maio de 2010

apresentação do crack em pleno crash

Caríssimos,

Venho por este meio solicitar a vossa melhor atenção para este indigente poético-político prosaico, uma vez que assenta mosaicos em cima de cimento-cola de prosas, limpos de chistes e alguns poemas avulsos, devidamente embalados na confeitaria Ideal do sr. Nunes, sogro do requerente de cujus para a vida comercial.
Pelo tom deste parágrafo gafo, vão ter que aturar um tipo bipolar, pois portageiro no eixo norte-sul como quem vem do québeco, altamente poliédrico - tanto fala bem de zeus como o põe pelas ruas da amargura, consumista compulsivo de qualquer Incontinente - mas profundamente humano, uma vez que assassina diariamente, com requintes de estupidez, uma média de 69 desempregados de longa duração, só para fazer um favorzinho ao governo instalado, pese o mau-estar. Já lhes disse para trocarem de sofás e meterem umas chaises-longues para receberem condignamente o FMI: fulanos mimados de importantes.
Verão, que ainda não chegou em brasa, que falarei sempre de coisas muito sérias, mas nem sempre a sério - nomeadamente quando se tratar de personagens, ainda por cima se salivarem como crocodilos donos do mundo.
Possuo uma licença lusíada de Ciência Política e outra em Liberdade, e dela farei uso no estrito cumprimento do Tratado de Lisboa - como sabeis dá até poderes a putativos inimputáveis chegarem a altos cargos politico-administrativos e de gestão de recursos humanos.
Acabei por não me apresentar, nem dizer nada do que queria: atingi o meu objectivo.