CRISE
crise na bolsa de valores ou será dos valores?
quanto vale um homem? nos seus bolsos vazios de esperança, mete as mãos nuns jeans rôtos, e uns cêntimos sujos nunca lhe darão para tomar sequer um irish coffee...mas toma-lhe o amargo nas streets debilitadas de Dublin, na ira de Irlandas desbotadas dos seus prados verdes. Já um poeta tropical disse que as mulheres ficam mais belas quando chorosas, também nas portas a bater solitárias das fábricas abandonadas, na ferrugem dos cadeados sem mãos, no chão de cimento furam ervas daninhas anunciando novos poemas de protesto e redenção.
Como um amor que se vela antes de se tapar seu rosto, cometa-se a façanha: faça-se da crise uma despedida, um adeus sem saudades dum sistema que atenta contra os mais elementares direitos da Humanidade. Depois do avc soviético, dever-se-á declarar o óbito capitalista e a consequente submissão do capital à sua condição inicial: mero instrumento de trocas.
Claro faltam alternativas, modelos socio-politicos e novas filosofias de vida...e se em vez de construir modelos cerebrais, déssemos aso a improvisar a felicidade? se é pobre em si a dicotomia ricos versus pobres, de facto devíamos repensar a legitimidade da riqueza de alguns, pessoas, países e empresas face à penúria de muitos milhões. Realização, mérito, inventiva e trabalho deveriam ser os valores e ter a sua devida recompensa e o seus concomitantes inimigos são a especulação, a mediocridade, a esperteza, a burocracia e o legalismo, entre outros.
Além deste discurso racional, que não é o que mais aprecio, subsiste a esperança em cada erva daninha que fura o betão molhado deste inverno do nosso descontentamento e anuncia que a primavera é possível.